Como ficou a minha vida profissional depois dos filhos

A minha vida profissional é bem eclética, digamos assim. O meu primeiro emprego foi num laboratório de testes de plásticos porque eu me formei em Técnico de Química, no CEFET. Trabalhei lá pouco mais de 1 ano e me mudei para o Canadá, com 19 anos. Estudei Business no Seneca College e fui subindo devagar a escadinha da minha vida profissional canadense. Fiz de tudo um pouco. Trabalhei em restaurante, limpeza, customer service na Future Shop (hoje BestBuy), secretária num escritório de contabilidade e por aí vai.

O meu último emprego, antes de ser mãe, era no grupo HBC (Hudson Bay Company) como Online Merchandise Coordinator. Eu era responsável por alguns produtos disponíveis nos sites da The Bay, Home Outfitters e falecida Zellers (departamentos infantil, relógios e algumas marcas de roupas masculinas). Trabalhava num escritório em downtown, com vista para a prefeitura. Estava chegando onde eu queria.

Em 2009 me tornei mãe pela primeira vez e quando saí de licença maternidade o meu objetivo era voltar a trabalhar depois. Mas confesso que no fim de um ano uma série de fatores me fez mudar de ideia e preferi ficar em casa com a Elena. Foi uma decisão difícil, com momentos de altos e baixos, mas que eu não me arrependo.

Os motivos para ficar em casa

Basicamente 3 motivos me fizeram questionar se valeria a pena voltar a trabalhar:

  • dificuldade de achar vaga numa creche legal
  • custo da creche em Toronto
  • o aperto no coração que dava toda vez que eu olhava para essa carinha aí da foto

Contratar uma babá particular, é um privilégio de poucos no Canadá. Então para a maioria das pessoas que precisam trabalhar fora e não tem parentes que possam ficar com os filhos, as opções são: Child Care Centre (creche particular ou do governo) e Home Care Centre (casa de babás). Eu tinha preferência por uma creche mas infelizmente a fila de espera era enorme. O recomendável é colocar a criança na fila logo quando nasce e eu não fiz.

O custo, foi o segundo fator que me fez pensar muito na questão vida profissional x maternidade. Na época, a creche custaria metade do meu salário. Só para vocês terem uma noção, atualmente uma creche cobra em torno de CAD$96 por dia para um bebê de até 18 meses. O que ia sobrar do meu salário não ia fazer uma diferença significativa no nosso orçamento.

Queria muito poder estar do lado da minha filha, acompanhando cada etapa do seu desenvolvimento nos primeiros anos. Sentia um aperto no coração toda vez que pensava em deixá-la com outras pessoas e que ninguém ia cuidar dela como eu. Ao mesmo tempo não queria desistir do emprego que lutei tanto para conquistar e onde tinha uma grande chance de crescer. Acho que o mesmo dilema da maioria das mães.

Pensei nos prós e contras da decisão. Eu e o marido calculamos as despesas na ponta do lápis e verificamos que se ele trabalhasse algumas horas a mais, nós poderíamos nos manter, sem precisar do meu salário. No fim a vontade de ficar em casa com a Elena foi maior do que a de voltar a trabalhar. Sei que tenho muita sorte pois tive a chance de escolher, muitas pessoas não tem e precisam voltar a trabalhar independente de terem vontade ou não.

Em 2011 tive a Sophia e ficar em casa fez ainda mais sentido, pois com duas filhas eu ia praticamente trabalhar só para pagar creche!

Efeitos colaterais de ficar em casa

Apesar do meu lado mãe se sentir realizado, ficar em casa trouxe alguns efeitos colaterais. Pode parecer lindo e glamoroso ficar em casa, “apenas” cuidando dos filhos mas a realidade é bem diferente.

Mesmo dando um duro danado me sentia inútil por não contribuir financeiramente, isolada, estressada, desvalorizada, descuidada com minha aparência e culpada toda vez que via a casa de pernas para o ar no fim do dia. Afinal eu estava em casa e mesmo assim não dava conta de arrumar.

Eu buscava atividades para me ocupar (o blog foi uma delas) e tentava reservar um tempinho para mim mas a verdade é que estava sentido falta de trabalhar e de conversar com adultos. E a solução que encontrei foi traçar um plano para ter uma vida profissional mais flexível. Um emprego que não fosse trancada num escritório, o dia inteiro.

Como está a minha vida profissional agora

E como parte do meu plano decidi voltar a estudar, à noite, quando a Sophia tinha 1 ano. Escolhi o curso de Graphic Designer no George Brown College porque era uma coisa que gostava e nunca tive oportunidade de estudar. Me formei e comecei a trabalhar como freelancer, de casa mesmo, para conciliar a vida de mãe com a profissional. No começo trabalhava basicamente só depois que as meninas iam dormir mas quando as duas começaram a ir para a escola, ficou mais fácil definir uma rotina de trabalho.

Em 2018 surgiu a oportunidade de trabalhar com intercâmbio e foi então que abri a minha agência Easy Intercâmbio. Continuo com os clientes de design e agora tenho um escritório por causa da agência. Mas a verdade é que, para dar conta de tudo, tenho que trabalhar uma parte do tempo de casa ou de qualquer lugar com acesso a internet. Respondo emails enquanto espero terminar a aula de piano ou de ginástica, ou em pleno parquinho do bairro, também consigo sair no meio de expediente para ir no mercado e posso pegar as filhas na saída da escola.

Apesar de ser uma rotina puxada, difícil e muito doida, ela funciona para mim. Me viro nos 30 mas sempre tento buscar um equilíbrio entre vida profissional e de mãe.

A minha prioridade ainda continua sendo as minhas filhas e não minha carreira, pois elas ainda precisam muito de mim. E a medida que elas vão crescendo, vou mudando o meu foco.

vida profissionalFoto: Michael Tenaglia

Projeto Mães no Canadá

Esse post faz parte do Projeto Mães no Canadá, onde eu e outras blogueiras/Youtubers brasileiras, contamos nossas opiniões e experiências sobre um mesmo tema.

Passa lá nos outros blogs/canais para conferir os relatos das outras mães:

Alessandra | Canadiando
Beatriz | Biba Cria
Carol | Fala Maluca
Danielle | Vidal Norte
Gabriela | Gaby no Canadá

Livi

Baiana expatriada em Toronto. Adora escrever sobre suas viagens em família e experiência de vida em Toronto

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4 Resultados

  1. Dani disse:

    Ai Livi !! Me vi inteira no seu texto!! Agora com o nascimento da Claire, bateu mais ainda aquela dúvida de que caminho tomar profissionalmente. Mas poder cuidar delas em casa é um privilégio, apesar dos dias difíceis. Nossos textos ficaram mto parecidos rsrsrs beijos

  2. Elane Dutra disse:

    Ei Livi! Ótimo tema!
    Estou vivendo isso… Sou Pedagoga por formação. No último semestre da minha faculdade fiquei grávida (conforme planejado), e conforme combinado com meu esposo, eu ficaria em casa para cuidar da nossa filha até ela fazer quatro anos de idade. Esse ano nossa filha fez 3 anos de idade, e eu tenho me sentido muito esgotada… ansiosa… pois faço tudo sozinha… e apesar de estar no Brasil, não tenho família perto para ajudar.
    Tenho me sentido perdida… como será meu retorno ao mercado de trabalho… até porquê certamente não irei trabalhar ainda na minha área… pois estamos com os planos para irmos para o Canadá no ano que vem.

    Mais uma vez obrigada! Pois é sempre bom saber da experiência de outras mães .

  3. Raquel disse:

    Bacana vc compartilha sua jornada!! Não è fácil ficar em casa e nem trabalhar fora, de alguma forma vc tem q abrir mão de algo.

  4. Clara disse:

    Que legal!! Estou bem nem processo de estar estressada, isolada e precisando dialogar com adultos rs. Minha bebê tem 11 meses. Moro em Kelowna BC. Sou formada no Brasil em psicologia. Preciso estudar mais aqui pra poder validar meu diploma. Já disse a meu marido que meu limite de ficar em casa é de mais 1 ano. Mais que isso acho que fico maluca. Sou muito agitada pra ficar em casa mais de 2 anos. Preciso fazer algo! Obrigada pelo seu post!! Da um conforto no coração

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