Bullying: você sabe o que é ostracize e shunning?
Os filhos vão crescendo e novas preocupações vão aparecendo… Nesse post vou falar de um assunto delicado, o bullying. Segundo uma pesquisa feita em 2012, no Canadá 1 em cada 3 estudantes adolescentes disseram que sofrem, ou já sofreram bullying recentemente. Essa pesquisa avaliou 35 países e o Canadá ficou com a 9° taxa mais alta de bullying entre adolescentes na faixa etária de 13 anos de idade. Eu não achei uma pesquisa de uma fonte confiável mais atual, então citei essa.
De qualquer forma, se você mora aqui, vai perceber que há uma enorme preocupação sobre o assunto, com várias iniciativas para prevenção do bullying.
No Canadá a última quarta-feira de fevereiro é um dia especial anti-bullying chamado de Pink Shirt Day. Nesse dia as pessoas usam uma camiseta rosa para mostrar seu apoio contra o bullying. A ideia partiu de dois estudantes da província de Nova Scotia, em 2007. Na época eles compraram e distribuíram 50 camisas rosas para outros estudantes em sua escola, com o objetivo de apoiar um colega que estava sofrendo bullying por ter usado uma camisa rosa no primeiro dia de aula. A ação ganhou o mundo e foi adotada em vários países, porém em datas diferentes.
Além disso, o governo de Ontário determinou que a semana que começa no terceiro domingo de novembro será de conscientização e prevenção do bullying. Cada província tem algo semelhante. Nas escolas sempre acontecem palestras sobre o assunto e orientação do que fazer caso você esteja sofrendo bullying.
Ostracize e shunning, formas de bullying pouco discutidas
Quando se fala em bullying, a maioria das pessoas pensam em ataques físicos, verbais e cyberbullying. Mas quase nunca lembramos que há um tipo de bullying muito mais sutil e silencioso. É possível ferir os sentimentos e a auto-estima de uma pessoa sem levantar um dedo, ou emitir um som.
Há uns meses atrás aprendi duas palavras novas em inglês: ostracize e shunning. Talvez você conheça a palavra ostracizar, em português, que significa excluir, banir, marginalizar. Em inglês ela significa a mesma coisa. Shunning, vem do verbo shun, que significa evitar, ignorar, rejeitar (alguém ou alguma coisa). Ambas podem ser usadas para descrever uma forma de bullying social, muito pouco discutida.
Esse tipo de bullying acontece quando uma pessoa é socialmente rejeitada ou excluída de um grupo, insistentemente. Segundo o site Stop a Bully, 20% dos casos de bullying são de exclusão. Geralmente o bullying por exclusão acontece com mais frequência a partir do Grade 4. Essa exclusão social também acontece com adultos, como todos nós sabemos bem. Só que é bem mais difícil para as crianças lidarem com isso do que nós adultos, que já temos uma personalidade formada.
É uma forma bem sutil de bullying porque ao contrário da criança que leva bronca porque estava batendo ou xingando a outra, a professora não tem como forçar duas crianças a brincarem juntas. É um bullying que quem pratica sai impune e quem sofre fica emocionalmente machucado.
Infelizmente não temos como evitar que nossos filhos passem por esse tipo de bullying, mas aqui algumas sugestões do que fazer, caso isso aconteça para ajudar o seu filho, ou filha, a superar a situação.
Converse abertamente com seus filhos
Sei que é óbvio, mas essa é a melhor forma de saber o que está acontecendo na vida dos nossos filhos.
Sempre começo perguntando a minhas filhas como foi o dia e o que elas fizeram na escola. Deixo que elas me falem o que tiverem vontade e as vezes pergunto do que brincaram no recreio. Elas geralmente ficam empolgadas contando que fizeram isso ou aquilo, com fulano e beltrano.
Se elas ficam quietas ou irritadas com a pergunta, sei que há algum problema. Então tento descobrir o que é.
Também aproveito para conversar sobre comportamentos que são aceitáveis e que não são. Conversamos sobre bullying e o que elas dever fazer se isso acontecer com elas ou algum coleguinha. E já dou o recado para que elas também não entrem no esquema de fazer bullying com ninguém.
Respeite os sentimentos do seu filho
Quando o seu(sua) filho(a) se abrir com você sobre esse, ou qualquer outro problema, apenas ouça. Não ofereça julgamento e nem critique. Jamais diga que a culpa é do(a) seu(sua) filho(a) porque você acha que ele(a) devia ser mais extrovertido, descolado, alto, baixo, gordo, magro… A culpa NÃO é dele.
Tente entender o que o seu filho está sentindo e ofereça conforto. Procure descobrir se há realmente uma exclusão ou é apenas uma coisa do tipo o amiguinho quer brincar com outra pessoa hoje, ou houve uma festa e apenas algumas pessoas foram convidadas. Aqui é muito comum as pessoas fazerem festas de aniversário e chamar poucos amiguinhos. Não é nada pessoal, é apenas o jeito deles.
Aconselhe mas não tente resolver a situação
Deixe que seu filho decida o que fazer e não tente resolver por ele. É importante aconselhar mas permitir que a criança tome as rédeas da situação e não se coloque numa posição de vítima. Por mais doloroso que seja, ela tem que aprender a dar a volta por cima. Mostre que você está do lado dela e que confia em suas decisões.
Resista à tentação de falar diretamente com os pais da criança que está fazendo o bullying
Sim, mesmo quando você conhece bem a família, não faça. Acredite em mim, pode piorar a situação ao invés de ajudar. Se tiver que falar com alguém, melhor que seja com a professora ou diretora da escola. Mas já adianto que, nesse tipo de bullying, elas não tem muito a fazer. De qualquer forma, registre sua reclamação, caso precise tomar alguma outra atitude no futuro.
Falando por mim, mesmo não achando que minhas filhas seriam capazes de um comportamento desse tipo, se alguém viesse conversar comigo, eu investigaria e conversaria sobre o assunto, nem que fosse de uma maneira geral. Pelo menos para dar um reforço no discurso do que é certo e errado. E com certeza ficaria de olho na minhas filhas. Porque no fundo a gente sabe quando nossos filhos mentem para gente. Só que infelizmente nem todos pensam da mesma forma.
Incentive seu filho a fazer outras amizades
Incentive o seu filho a sempre fazer amizades e não ficar só em um grupinho. Sei que quando chega certa idade, fica mais complicado mas se a criança for excluída do grupo, não vai ficar sem ter ninguém para brincar ou conversar.
E tente proporcionar situações para que ele(a) faça novas amizades também fora da escola. Atividades em grupos, esportes ou arte podem aliviar a tensão e criar oportunidades para conhecer outras pessoas. Além disso, esses tipos de atividades podem ajudar a dar uma levantada na auto-estima.
Ensine seu filho a ter voz e se valorizar
Mostre ao seu filho como ele é importante e que o fato disso ter acontecido não o faz pior do que os outros. Aponte qualidades e coisas que o seu filho sabe fazer bem. Tente dar um pouco mais de responsabilidades para que ele se sinta requisitado e valorizado.
Também é fundamental mostrar que ele deve buscar amizades que compartilhem dos mesmos interesses, ao invés de tentar se adequar aos interesses dos outros apenas para estar num grupo. É muito importante ensinar os nossos filhos a terem voz e não serem tão passivos. Sei que isso vai muito da personalidade de cada um, mas a verdade é que as pessoas muito boazinhas, ou que não emitem opinião, são um alvo fácil para bullies.
Percebo muitas vezes que a escola daqui passa uma ideia que todos têm que se comportar como robôs. Então algumas crianças tem medo de abrir a boca para não se sobressair, ou por medo de levar bronca. Então ensine a seu filho que ele não será punido por emitir opiniões ou expressar os próprios sentimentos, desde que seja feito com respeito e educação. E que se uma pessoa não o respeita e aceita como ele é, então não merece sua amizade. Acho que esse é um conselho que vale para a vida toda, né?
Onde buscar ajuda
Ser excluído machuca e pode afetar uma pessoa de várias formas, inclusive a auto-estima. Se você perceber uma mudança de comportamento do seu filho ou sentir a necessidade de conversar com alguém, procure ajuda. Um pediatra, conselheiro ou psicólogo pode avaliar a situação emocional e ajudar. É sempre bom ter uma segunda opinião e também uma outra pessoa que esteja emocionalmente distante da situação, para que o seu filho possa conversar.
Alguns sites e órgão que podem ajudar:
http://www.etobicokechildren.com/ (aconselhamento gratuito em Toronto)
https://www.bullyingcanada.ca
Kids Help Phone
https://www.canada.ca/en/public-health/services/bullying.html
https://www.ontario.ca/page/bullying-we-can-all-help-stop-it
https://www.prevnet.ca/bullying
http://www.stopabully.ca
http://www.rcmp-grc.gc.ca/cycp-cpcj/bull-inti/index-eng.htm
Tenho um motivo pessoal para escrever esse post e espero que as minhas colocações sejam úteis. E vocês, têm mais algum conselho ou gostariam de compartilhar algo sobre o assunto?
Imagens: Pixabay e Shutterstock
Legal vc trazer este assunto à tona.
A pior fase acontece no ensino médio (High School), quando o/a adolescente não fala do que se passa porque quer resolver tudo sozinho.
Há casos de suicídio e (pasme) muitos jóvens ficaram insensíveis ao sofrimento dos outros. Numa escola, um aluno ficou filmando enquanto um outro ameaçava se jogar de uma ponte. E colocou na Internet.
No fim o rapaz não pulou mas a escola viu o vídeo e expulsou quem filmou.
Outro caso foi mais trágico e a menina se suicidou. Na página dela lia-se comentários de alunos: “Mereceu”, “Ninguém vai sentir a sua falta mesmo” e outros de baixo calão.
Cruel mas real, infelizmente.
É assustador a falta de empatia dos jovens, em muitos casos beira a crueldade. Eu tenho medo de pensar no tipo de adultos que essas pessoas se tornarão, sabe.
Tem gente que não gosta mas acho importante falar sobre isso.
Minha mais velha está com 10 e estou tentando manter o diálogo aberto para que ela continue sempre conversando comigo.