5 coisas que eu não gosto em Toronto

A gente está acostumado a ouvir sempre coisas boas a respeito de Toronto. Que ela é linda, multicultural, maravilhosa para viver etc. Então, para sair da rotina, hoje eu e as outras blogueiras do projeto #VidaEmTO não vamos falar bem da cidade.

Mas antes que você me ataque e diga que estou reclamando de barriga cheia, vou dizer que adoro morar em Toronto. Entretanto, há alguns pontos negativos sobre morar aqui. Afinal, não existe nenhum lugar perfeito no mundo. Então se você pensa em vir para cá, acredito que ajuda muito não chegar com essa expectativa.

Ao meu ver, a diferença em relação ao Brasil é que os problemas que enfrento aqui nem se comparam aos que enfrentava quando morava lá. Por isso, tudo que falarei nesse post não muda em nada a minha decisão de estar em Toronto. Os pontos positivos de morar no Canadá superam os pontos negativos, no meu caso.

Agora que esclareci o meu ponto de vista, aqui 5 exemplos de coisas que não curto e que mudaria, se pudesse, para deixar Toronto ainda melhor do que ela já é.

1- Trânsito

O trânsito é disparado o que menos gosto em Toronto. Apesar de ter estradas ótimas, uma pesquisa feita pela CAA (Canadian Auto Association) revelou que Toronto tem o segundo pior trânsito do Canadá, perdendo apenas para Montreal. Como é de se esperar em qualquer metrópole, as ruas estão sempre cheias de carros e na hora do rush o trânsito simplesmente não flui. E se nevar esquece, seu caminho de volta para casa será um pesadelo. Ah e no verão as construções estão por toda parte, piorando ainda mais a situação. Os Torontonians costumam brincar dizendo que há duas estações no ano, o inverno e a construção (nas ruas).

Mas não é só os engarrafamentos que estão me incomodando ultimamente, é a forma como as pessoas estão se comportando. Quando comecei a dirigir aqui em 1999 os motoristas eram mais pacientes, educados e andavam mais “na linha”, digamos assim (putz me dei conta de como estou velha, isso foi no século passado).

Hoje as pessoas estão dirigindo mais agressivamente e perdeu-se aquela cordialidade que havia antes. Tá, eu sei que dirigir em Toronto é uma maravilha se tomarmos como padrão muitas cidades brasileiras, mas acho uma pena essa mudança para pior no comportamento dos motoristas. Talvez seja uma consequência normal do crescimento e stress de dirigir em ruas mais engarrafadas, sei lá.

Se você pretende dirigir na cidade leia algumas dicas úteis nesse post.

2- Sistema de transporte ultrapassado

Qualquer pessoa que mora em Toronto e usa o transporte público vai concordar que o sistema já não comporta mais o volume de pessoas que dependem dele. Tente pegar um metrô em direção a downtown na hora do rush que você vai saber o que estou falando. Trens super lotados, estações que parecem um formigueiro e qualquer pequeno problema nesse horário provoca um caos.

A ideia de transporte integrado é ótima, gosto muito de poder pagar apenas uma passagem até o meu destino final, sem precisar pagar novamente cada vez que troco de ônibus. O problema é que o investimento na infra estrutura do transporte público não acompanhou o crescimento da cidade de Toronto. Atualmente há uma obra para estender o metrô, que só terminará em 2025. E no fim de 2017 foi inaugurada uma extensão do metrô, que agora vai até Vaughan. Mas nenhuma das duas resolve o problema de locomoção até o centro da cidade. Não sei realmente o que eles vão fazer daqui para frente.

Num outro post do projeto #VidaEmTO, nós falamos de coisas que mudaríamos se fôssemos prefeitas de Toronto e todas concordaram que o sistema de transporte de Toronto já era.

3- Falta de livros didáticos e comunicação sobre o que as crianças estão aprendendo na escola

Eu não sei se isso acontece em todas as escolas primárias ou apenas na que minhas filhas frequentam. Como já falei aqui, estou relativamente satisfeita com o sistema de educação canadense mas ainda assim há alguns pontos que deixam a desejar.

Até o Grade 2 as crianças trabalham apenas com apostilas de exercícios e as explicações são dadas pelo professor em sala de aula. Por exemplo, a apostila de ciências possui a pergunta “quais os estados da matéria?” mas não tem um textinho em lugar nenhum falando nada, ou mostrando exemplos. A de matemática as vezes tem a primeira questão feita como exemplo e pronto.

Assim que finalizam uma apostila de cada assunto, os alunos fazem um teste. Acontece que esse é o único material que trazem para estudar em casa, não há nada escrito com explicações para o aluno ler e tirar dúvidas, caso não tenha entendido ou esqueceu o que foi dado em sala de aula. No fim das contas, eu tinha que explicar e revisar tudo com a minha filha antes dos testes. Não me importo em ensinar mas acho que isso não incentiva o aluno a ser independente (coisa que os canadenses prezam tanto). E se eu não soubesse para explicar teria que procurar um homework help ou tutor.

Quando recebi a primeira apostila concluída, vi que a minha filha tinha ficado cheia de dúvidas e errado um monte de coisas. A professora escreveu “refazer” em algumas páginas mas não tirou dúvidas ou revisou com ela o assunto. Agora me diga, se a criança não entendeu vai refazer errado e continuar sem entender, correto? Porque teoricamente isso é para ser feito na escola.

A partir daí pedi que a professora enviasse as apostilas diariamente para casa, assim eu podia acompanhar e esclarecer alguma dúvida, se necessário.

A partir do Grade 3 as crianças começam a usar mais livros didáticos, porém não são muito explicativos. Não vi livro de gramática até agora (Grade 3), apenas apostilas de exercícios. A professora nem sempre corrige tudo e manda a apostila assim mesmo para ser estudada. Já vi várias questões respondidas erradas e precisei corrigir.

Leia outros posts que já escrevi sobre educação no Canadá.

4- Dificuldade em marcar um médico especialista

No Canadá, ao contrário do Brasil, não há a possibilidade de marcar diretamente médico especialista como ginecologista, oftalmologista, etc. Nem pagando. É preciso visitar um clínico geral para que ele possa avaliar o problema e decidir se precisamos ser encaminhados para um especialista ou não.

O processo é um pouco burocrático pois o clínico geral manda a requisição diretamente para o especialista e ele decide se vai te aceitar como paciente ou não. As vezes só para ter essa resposta já demora. Não vejo problema em ir no clínico geral primeiro mas acho que eles poderiam simplificar o processo e agilizar.

Como a cidade de Toronto possui 2,8 milhões de habitantes, você pode imaginar que não há médicos suficientes para atender toda a população e o tempo de espera para ver um desses profissionais pode chegar a meses, se não for um caso de urgência. Eu, por exemplo, já esperei 6 meses para uma consulta com uma ginecologista.

Não vou discutir a qualidade de profissionais porque médico bom e ruim tem em qualquer lugar. Só temos que dar sorte de acharmos onde está o bom.

Se precisar de dicas para encontrar um médico de família em Toronto leia esse post.

5- O inverno longo

Desculpa mas eu simplesmente detesto o inverno. Sei que isso é um gosto pessoal e não um problema da cidade, além do mais quando escolhi morar aqui já sabia que seria assim. Mas independente do clima gostaria apenas que ele fosse um pouco mais curto.

Eu, por exemplo, sofro um pouco com a depressão de inverno nessa época e faço o que posso para tentar me livrar dela. Não suporto a friaca, nem a falta de sol por tanto tempo. Se pudesse passaria os meses de dezembro a fevereiro em algum destino tropical. Porém, mesmo não amando, tento não lamentar e aproveitar o old man winter da melhor forma possível.

Mais dicas sobre o inverno aqui.

Toronto não é perfeita e tem problemas como qualquer lugar. Mesmo assim adoro essa cidade e sinto que aqui é o meu cantinho no mundo. Aos meus olhos, ela tem muito mais qualidades do que defeitos e está sempre de braços abertos para receber todo mundo.


Agora confere os posts das outras blogueiras e descubra o que elas não curtem em Toronto.

Mirella | Blog Casal Mikix

Gabriela | Gaby no Canadá

Mariana | Virei Canadense

Carina | Outside Brazil


Fotos: Stuck by Damian D via Flickr CC, Chinatown by Dylan Passmore via Flickr CC, Doctor by NEC Corporation of America via Flickr CC

Livi

Baiana expatriada em Toronto. Adora escrever sobre suas viagens em família e experiência de vida em Toronto

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11 Resultados

  1. EMILIA disse:

    Gostei do que li e aprendi algumas coisas. É bom saber o que encontrar quando se vai a qualquer lugar, aprendi muito. Sempre e positivo aprender e entender o lugar aonde se vai passear ou trabalhar.

  2. Daniel disse:

    Livi alugamos um carro e vamos do aeroporto de Toronto até Montreal e dai pars Ottawa e cataratas niagara. Que dicas vc me daria: estrada, o que ver, neve, ingressos. Toda ajuda é bem vinda

    • Livi disse:

      Oi Daniel,

      Qual o período que vocês vem? Como você disse neve então imagino que seja no inverno né?

      A estrada é geralmente muito boa e tem postos de apoio, como falei aqui. Se voc6e vai dirigir no inverno veja aqui dicas importantes.

      Vou te passar os links do que já escrevi de cada cidade assim você pode ver minhas dicas e qualquer dúvida é só falar.

      Ottawa
      Montreal
      Niagara

  3. Fatima Lee disse:

    Toronto não é uma cidade para se criar filhos! Nunca foi! Portanto se querem melhores escolas, mais proximiddade com professores, comprem uma boa casa ao redor…nunca…Toronto! Se vc não morar dentro de Toronto, vc terá mais opções! Com certeza! Sempre achei que morar em Toronto é para executivos sem filhos ou solteiros! Minhas filhas com 23 Isabelle (Animation) e 26 Yasmine ( publisher), amam Toronto e não saem de lá por nenhuma outra cidade. Trabalham e moram juntas no centro! Mas elas sabem…casar e ter filhos….adeus Toronto! Quando chegamos moramos em Toronto, por 1 ano… não foi uma boa , compramos nossa casa de Newmarket e saímos da cidade! Eu as criei entre Newmarket e Burlington!! Duas cidades maravilhosas!

  4. Realmente esse negócio dos médicos especialistas é um saquinho monstro! Acho lindo a saúde pública canadense, mas eu gostaria que a gente pudesse ter mais acesso a especialistas e não ficar tomando advil por qualquer coisa.

  5. Carina disse:

    Acho que o transito é unanimidade em todos os posts hehehe o pessoal daqui é bem grosso mesmo! Afff E também concordo com a questão do médico especialista, nossa é uma novela mexicana sem fim! hehe

  6. Oi Livi. O meu maior problema com Toronto é o sistema de saude e eu tenho um textão sobre isso pronto, mas não tenho coragem de publicar (ainda). O ponto 3 foi bom saber… ainda nao passei sobre isso mas pela creche ja da para ver esta falta de comunicacao. Beijos

    • Livi disse:

      Oi Gaby,

      Também tenho outras queixas a fazer sobre o sistema de saúde, inclusive estou passando a maior chatice para resolver uma coisa simples. Mas achei melhor pegar leve dessa vez. Imagino que pela sua experiência profissional aqui deve ter muita coisa para falar mesmo. Curiosa para ler esse seu post. Beijos

  7. vanessa disse:

    No sistema publico de saude do Brasil, o paciente tambem nao pode marcar consulta para medico especialista diretamente. Tem que ir ao clinico geral antes que ira encaminhar ao especialista.

    • Livi disse:

      Oi Vanessa,
      Verdade mas pelo menos temos a opção de marcarmos um particular num caso de necessidade. Aqui não.

      Mas na verdade para mim o problema não é ter que ir no clínico geral antes para pegar a requisição e sim ter que esperar meses para ser atendido. Nem com a requisição na mão podemos marcar, o clínico geral escolhe o médico e manda a requisição diretamente para o escritório dele. Um processo longo e bem burocrático que se agrava com a falta de profissional.

      Muitas vezes uma coisa que poderia ser resolvida facilmente por um especialista se estende e termina se agravando. Estou passando por isso nesse momento. 🙁

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