Nossa experiência criando filhas bilíngues

Já tem um tempão que não falo sobre bilinguismo aqui no blog e acho que está na hora de um update né? Então vou contar um pouco da nossa jornada e das coisas que tem dado certo na nossa família.

Para quem não sabe, tenho duas filhas, de 7 e 9 anos, que nasceram aqui no Canadá. Em casa nós falamos somente português com as meninas pois achamos importante ensinar o nosso idioma para elas. Elas falam português e inglês mas confesso que é um desafio diário tentar manter um equilíbrio entre o os dois idiomas.

bilinguismo

Como contei nesse post, quando as minhas filhas nasceram eu foquei tanto em ensinar e manter o português que acabei deixando o inglês de lado. Pode parecer estranho mas mesmo morando aqui, a mais velha só começou a conversar em inglês quando tinha 4 anos e a mais nova com 3. Elas falavam praticamente só português. Por um lado, isso foi ótimo para aprenderem bem o nosso idioma, mas por outro, a mais velha teve um pouco de dificuldade no jardim de infância.

A transição foi um pouco tensa mas logo que começaram a ir para escola e ter mais contato com o inglês, aconteceu o oposto. Elas passaram a ficar mais expostas ao inglês e portanto ele se tornou o idioma dominante. Agora percebo que essa é a língua que elas se sentem mais confortável em falar. Mesmo assim seguimos conversando apenas em português com elas.

Baseada na minha experiência, deixo 3 dicas para vocês que também tem filhos bilíngues:

Misturar dois idiomas é normal

Não misturar os idiomas quando falamos com outros bilíngues é uma das coisas mais difíceis de controlar. Quando falta uma palavra no vocabulário em português é mais fácil inserir uma em inglês (ou vice-versa) pois a gente sabe que a outra pessoa está entendendo. Então relaxe, não há nenhum problema se seu filho fizer isso. A medida que ele ganhar vocabulário, a mistura diminui.

As minhas filhas misturam e as vezes até inventam uma palavra baseada no conhecimento que elas já tem. Por exemplo, quando falam a palavra “sem” elas dizem “com sem”, porque em inglês é “without” (se você traduzir ao pé da letra é “com sem”). Isso não é sinal de confusão, elas estão aprendendo. Quando percebo os erros, repito da forma correta, sem tentar ser chata e ficar pegando no pé. Devagar elas percebem e vão se corrigindo.

Porém, quando elas conversam com uma pessoa que fala somente português, se esforçam bastante para não misturar.

Crie oportunidades para praticar o português

Para aprendermos um idioma precisamos praticá-lo. Portanto, é importante criar oportunidades para as crianças ficarem em contato não apenas com o idioma mas com a cultura.

Além de conversarmos em casa, sempre que possível encontramos outras famílias brasileiras. Inclusive a melhor amiga das minhas filhas é brasileirinha. Se você não conhecer ninguém, há grupos em Toronto, como Português Lúdico e a Ciranda Brasileira, que promovem encontros regularmente.

Outra coisa que gostamos de fazer é ler em português para elas. Isso sempre desperta o interesse e ajuda a ganhar mais vocabulário. Elas ainda não conseguem ler sozinhas em português mas tentam. Usam o vocabulário que possuem e os sons que conhecem em inglês para tentar decodificar o que está escrito. Demora um pouquinho para cair a ficha mas até que elas decifram bastante coisa. É legal ter em casa livros e gibis em português.

Nós tentamos sempre fazer atividades que elas gostam para não ser uma coisa forçada. E no fim de semana tem sempre conversa com família no Brasil, que é o maior incentivo de todos.

Não dê ouvido a mitos

A pior coisa para quem está tentando ensinar duas línguas aos filhos é ter que ouvir pitacos sem nenhum fundamento científico. “você vai confundir a cabeça da criança”, “você não deve permitir que as crianças misturem idiomas”, “o melhor método é esse ou aquele” e por aí vai. Então o meu conselho para você é: se informe sobre bilinguismo e escolha a estratégia que mais se adequa ao seu estilo de vida. Existem várias pesquisas, livros legais e métodos diferentes. E o que funciona para uns pode não funcionar para outros. Siga o seu coração. O mais importante é motivar e dar oportunidade para que seu filho pratique o idioma que está aprendendo.

Alguns livros em inglês que li e recomendo são:

  • The Bilingual Edge
  • Raising a Bilingual Child
  • 7 Steps to Raising a Bilingual Child
  • The Bilingual Family

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Projeto Mães no Canadá

Esse post faz parte do Projeto Mães no Canadá, onde eu e outras blogueiras/Youtubers brasileiras, contamos nossa opinião sobre um mesmo tema. Passa lá nos outros blogs/canais para conferir as dicas.

Adriane | Like a New Home
Alessandra | Canadiando
Beatriz | Biba Cria
Carol | Fala Maluca
Carol | Minha neve e Cia
Danielle | Vidal Norte
Gabriela | Gaby no Canadá
Renata | Mala Inquieta

Livi

Baiana expatriada em Toronto. Adora escrever sobre suas viagens em família e experiência de vida em Toronto

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2 Resultados

  1. Kleber disse:

    Compartilho a minha experiência com duas filhas nascidas aqui e que são trilingues (inglês, português, francês).

    A minha esposa e eu procuramos um especialista e o conselho que tivemos foi não misturar as duas línguas que elas iriam saber distinguí-las (e quando usá-las).

    Enquanto não foram à escola, era português na maior parte do tempo. Assistiam programas infantis vindos do Brasil e foram logo expostas aos gibis do Maurício de Souza (aprenderam a ler praticamente sozinhas pois a nossa língua, diferente do inglês, é fácil para tal).

    Quando foram ao daycare, e principalmente no pré-jardim, a língua naturalmente voltou o foco para o inglês. Quando a escola nos mandou livros (um por dia) em inglês para lermos para elas, foi a única hora em que falamos inglês com ela (traduzir seria confuso pois na sala elas iriam conversar sobre a estória com a professora).

    Houve uma época em que elas deixaram claro que não era legal falar português perto dos amigos da escola. Respeitamos.

    Por serem canadenses, naturalmente o inglês se formou como primeira língua e o português passou a ser a segunda. Com o Extended French (imersão metade do dia), o francês virou a terceira língua delas.

    Isso tudo era esperado mas o que também deveria ter sido (mas para nós não foi) foi a cultura: elas são canadenses !

    Quando a minha filha mais velha tinha oito anos, eu lhe disse que pretendia voltar para o Brasil (para ver a reação dela), ao que ela que respondeu que compreendia que o Brasil era a … minha … terra mas que, apesar dela gostar de ir visitar a família lá, a terra dela era o Canadá.

    Elas têm dupla nacionalidade mas consideram-se canadenses (com afeição especial pelo Brasil).

    • Livi disse:

      Oi Kleber,
      Muito obrigada por compartilhar sua experiência. Fico feliz em saber que suas filhas falam os três idiomas. Parabéns para vocês que conseguiram administrar os 3 idiomas. Espero que as minhas meninas também continuem fala do nosso idioma.
      Um abraço

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